sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Afinal, onde foi parar a água de Vênus?

 Editoria: Exploração Espacial
Sexta-feira, 26 dez 2008 - 09h48

Afinal, onde foi parar a água de Vênus?

Terra e Vênus têm aproximadamente o mesmo tamanho e começaram a se formar praticamente ao mesmo tempo, fazendo os astrônomos concluírem que no início de suas formações ambos os planetas tinham a mesma quantidade de água. Hoje em dia, no entanto, as proporções do líquido em cada planeta são extremamente diferentes, sendo que a Terra tem aproximadamente 100 mil vezes mais água do que Vênus. Então, onde foi parar a água de Vênus?

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Arte: Interação solar entre o vento solar e a atmosfera venusiana. Crédito ESA/Agência espacial Européia.

Recentemente, dados coletados pela sonda européia Venus Express permitiram descobrir que o mecanismo de perda da água venusiana ocorre na atmosfera do planeta durante o período diurno. Em 2007 a sonda já havia revelado que a maior parte da perda de atmosfera de Vênus ocorria durante a noite. Juntas, as duas descobertas permitiram aos cientistas planetários uma melhor compreensão do que aconteceu com a água de Vênus, que suspeita-se, era tão abundante quanto na Terra.
A descoberta ocorreu após a análise dos dados do magnetômetro MAG, a bordo da sonda, que detectou a inconfundível assinatura da linha do hidrogênio "vazando" do lado iluminado do planeta. "Este era o processo que acreditávamos que ocorria em Vênus, mas é a primeira vez que é medido", disse a cientista Magda Delva, da Academia Austríaca de Ciências e chefe da equipe de investigações.
Segundo a pesquisadora, apesar da baixa concentração da água em Vênus, aproximadamente 2x1024 núcleos de hidrogênio, um dos constituintes da molécula de água, se perdem a cada segundo pelo lado iluminado do planeta.
No ano passado, o instrumento ASPERA (Analisador de Plasma Espacial e Átomos Energéticos) mostrou que havia uma perda muito grande de hidrogênio e oxigênio, que ocorria no lado noturno. A grosso modo, vazavam da atmosfera duas vezes mais átomos de hidrogênio do que de oxigênio. Como a água é constituída de 2 átomos de hidrogênio e 1 de oxigênio, os pesquisadores concluíram que moléculas de água estavam se partindo no interior da atmosfera.
Culpa do Sol

O Sol não apenas emite luz e calor, constantemente está lançando ao espaço o vento solar, uma espécie de sopro de partículas carregadas. Esse vento solar, por sua vez, bombardeia os planetas, induzindo campos elétricos e magnéticos em todo o Sistema Solar.
Ao contrário da Terra, Vênus (e também Marte) não produz campo magnético. Isso é muito significativo uma vez que é esse escudo que protege a atmosfera do vento solar. Em Vênus, no entanto, o vento solar golpeia a atmosfera superior, arrancando partículas que se perdem no espaço. Os cientistas acreditam que parte da água de Vênus tenha se perdido através desse processo, que ocorre ininterruptamente há 4.5 milhões de anos, desde que o planeta surgiu.
A questão continua

Apesar dos cientistas "verem" a água escapar do planeta através de instrumentos, a questão de onde foi parar a água de Vênus ainda permanece, pois não se sabe quanto de água foi perdido dessa forma desde o passado até agora. A descoberta leva os cientistas um passo à frente em compreender os detalhes do mecanismo, mas não dá um xeque-mate na questão. Segundo a pesquisadora Delva, é necessário detectar também a perda de oxigênio do lado diurno e verificar que existe pelo menos metade da quantidade de moléculas de hidrogênio deixando o planeta.
Até agora isso não aconteceu. "Todos os dias fico olhando os dados do magnetômetro, mas até agora não localizei a assinatura típica do oxigênio escapando do lado iluminado", disse a cientista.
Mais perguntas

Existe também um mistério a ser resolvido. "Estes resultados mostram que pode haver o dobro do hidrogênio na atmosfera superior de Vênus do que pensávamos", diz Delva. Os íons de hidrogênio detectados podem existir em regiões atmosféricas elevadas acima da superfície do planeta, mas a fonte destas regiões ainda é incerta.
Como vemos, a estrela D´Alva ainda reserva alguns mistérios a serem desvendados.

Fonte: Apolo11, link: http://www.apolo11.com/destaque.php