sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Oceano extraterrestre de Europa pode abrigar vida

18/11/2011

Capa de gelo sobre mar de uma das luas de Júpiter é mais fina do que se pensava
Europa2galileo

RIO - Há algum tempo os cientistas acreditam que Europa, uma das luas de Júpiter, guarda um imenso oceano líquido escondido sob uma grossa camada de gelo. Agora, novo estudo, publicado na edição desta semana da revista “Nature”, indica que esta cobertura glacial pode ser mais fina do que se pensava em algumas áreas, aumentando o potencial de ele abrigar vida.

A presença de água em estado líquido é considerada essencial para o desenvolvimento da vida como conhecemos. Por isso, sinais de sua existência presente ou passada são o foco de muitas pesquisas na busca por uma biologia extraterrestre. Em estudo divulgado em agosto deste ano, cientistas da Nasa identificaram o que parece ser água líquida ainda correndo na superfície de Marte. E o novo veículo-robô da agência espacial americana que vai explorar o planeta vermelho, o Curiosity, com partida prevista para o fim do mês, tem como principal objetivo verificar se ele algum dia já teve condições de abrigar vida.

Com base em observações feitas pela sonda Galileo, que orbitou Júpiter e estudou suas luas até 2003, e pesquisas sobre as calotas polares e glaciares da própria Terra, cientistas liderados por Britney Schmidt, da Universidade do Texas, descobriram que pelo menos uma região de Europa tem um corpo d'água líquida com área equivalente aos Grandes Lagos da América do Norte preso pouco abaixo do gelo. O lago extraterrestre estaria coberto por banquisas flutuantes em colapso, o que abriria caminho para troca de nutrientes, material e energia com a superfície e aumentaria as chances para o desenvolvimento e sobrevivência de formas de vida.

- Uma das opiniões da comunidade científica é que, se a capa de gelo é grossa, isso é prejudicial para a biologia, já que pode significar que a superfície não se comunica com o oceano abaixo – conta Schmidt, principal autora do artigo na “Nature”. - Agora nós temos evidências de que, embora o gelo seja grosso, ele se mistura vigorosamente. Isso pode fazer mais habitável de Europa e seu oceano.

Os cientistas se focaram em imagens da Galileo – ela mesma responsável pela descoberta dos sinais de que há um oceano líquido sob o gelo na lua de Júpiter – que mostram duas regiões protuberantes e de formato circular na superfície de Europa chamados “terrenos caóticos”. Formações semelhantes são encontradas na Terra nas calotas polares e em glaciares sobre vulcões. Os pesquisadores desenvolveram então um modelo em quatro etapas para explicar como elas teriam surgido na lua joviana, conseguindo assim resolver problema nas observações, que ora indicavam que a cobertura glacial de Europa era grossa, ora indicavam que era fina.

- Li o artigo e logo pensei que sim, isso faz sentido – comentou Robert Pappalardo, cientista sênior da Divisão de Ciências Planetárias da Nasa que não fez parte da equipe do novo estudo. - É o único modelo convincente que se encaixa com toda a gama de obervações. Para mim, é a resposta certa.

Ainda assim, tanto a existência do oceano sob o gelo da superfície de Europa quanto destes “lagos” presos próximo à superfície são fruto de inferências e especulações. Segundo os cientistas, a água se manteria líquida graças à força das marés gravitacionais de Júpiter, possível atividade vulcânica e até mesmo calor gerado pelo decaimento de elementos radioativos no seu núcleo. Para alguns, esta combinação poderia não só possibilitar o aparecimento de vida como também estimular sua evolução.

- A verdadeira chave para a vida em Europa é a permeabilidade da sua crosta de gelo – diz Richard Greenberg, professor de Ciências Planetárias da Universidade do Arizona, integrante da equipe de imagens da Galileo e que também não fez parte do grupo responsável pelo artigo na “Nature”. - Há fortes evidências de que o oceano sob o gelo está conectado à superfície por fendas e derretimento. Como resultado, há acesso a oxidantes, compostos orgânicos e luz para fotossíntese. Essa cenário físico fornece uma variedade de nichos habitáveis evolutivos. Se há vida lá, ela não tem que necessariamente estar restrita a micro-organismos – defende.

A real presença do oceano e dos lagos de Europa, no entanto, só poderá ser confirmada por uma futura missão desenhada para sondar a cobertura glacial da lua, classificada como a segunda maior prioridade em recente levantamento decenal sobre ciências planetárias do Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA e em estudo pela Nasa. Na Terra, radares são usados para estudar formações similares escondidas no gelo e eles deverão estar entre os instrumentos na futura missão espacial.

- Essa nova compreensão dos processos em Europa não seria possível sem a base de pelos menos 20 anos de observações das capas de gelo e banquisas da Terra – destaca Don Blankenship, co-autor do artigo na “Nature” e também pesquisador da Universidade do Texas, onde lidera levantamentos aéreos com radares dos glaciares terrestres.

Outros potenciais habitats no Sistema Solar incluem Io, outra lua de Júpiter, e Titã, maior lua de Saturno. Nestes casos, porém, por diferentes razões das de Europa e Marte. No de Io, devido ao intenso vulcanismo e à grande concentração de compostos de enxofre, que poderiam formar cadeias orgânicas. Já no de Titã, pela existência de vastos oceanos líquidos em sua superfície, só que compostos de hidrocarbonetos, os “tijolos” químicos da vida.

Fonte: http://oglobo.globo.com/ciencia/oceano-extraterrestre-de-europa-pode-abrigar-vida-3251008#ixzz1e6qEwcwx